segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Heraclices n. 1


Em tempos impermeáveis
Meneios não memoráveis
Lá estava ele
Diante da escadaria
Submerso no paraíso

Entre o ciúme de Zeus
E a musa,
Senhora das horas
A brisa da lua cheia
Despede-se sem promessa de aurora

A Web 2.0
Marcas registradas
Duas vozes inauditas
Um fetiche

Sem ginga, com charme
Disposto ao desentrave
Attachment sem teoria
Suficientemente boa
No castelo do rei

Renascer entre hemácias
Entre a energia e a matéria
Resquícios, pilhérias
De um desvirginar do meio-dia

“Nosso apartamento,
Um pedaço de Saigon”
A histeria sangrenta
Emadeirada no osso
Encadernando O-
Não desfrutará dos meus demônios
O exorcismo dos outros

“Quem me enfeitiçou
O mar, marée, bateau
Tu as le parfum
De la cachaça e de suor
Geme de preguiça e de calor
Já é madrugada”

Silêncios de Exu nos olhos da menina
Onde está minha Vênus
Quando me acudirá Yemanjá
Com que olhos, Odudua
 Servirei seu manjar?

Mulher, amiga, bruxa
Tia, fada, erê
Uma vida bela
Mais ou menos ordinária
Nos barrancos entre o tocar e o dizer

A negra carruagem
Suas estranhas viagens
O caçador encarcerado
Um cientista desarrumado
Revisado por pares
Em tiroteios e paisagens

Mais uma vez ele vem
Sisudo, risonho
Quebrando pratos
Rompendo pactos
Deixa-me desarmada
Em sentido estrito e lato

Quimeras e querelas
Me fazem desejar ver de perto
O enxadrista marrom
Que dá cor à imprensa
E desejo ao meu desejo
No meio das aquarelas

Menos uma manhã
Mais uma tarde
A uva derrama aos litros
Desfeita entre sonhos e milagres

E assim
Lá se vão
Uma avalanche de versos
Corpos em movimento
Membros e olhos despertos
Com o obscuro e o escancaro

Para além de todos os certos

terça-feira, 2 de julho de 2013

Repositório

Arquivo.
Morto, Vivo. Enjaulado.

Diante de tantas janelas abertas,
Escancaradas, escorregadias, esporrentas.
Quem seria eu para me aventurar?
Eram canções, poemas, tarefas.
Recortes a prazo.
Delírios pré-pagos.

Pisei fundo.
Doí em suas costas.
Fantasiei-me de presente
Branca, enorme, inerte
Inteira como o freezer
Um botequim no meio da cozinha amarela
Despedaçada como Vênus
Excessiva e mortal.

Uma Inhaúma sem sol exige retratações.
Recortei-a para que coubesse e sobrasse
Me invadisse
Gostasse
Deitasse no sofá descarnado
A posteriori. Ad eternum.

Sem os muros da instituição, criei as citações
        a robustez do filósofo
        a agudeza psicanalítica
        o amor intragável.
        a estupidez elíptica.

Chovia durante semanas.
Elas escoravam e levavam embora o que sobrava
Desacompanhada da glaciosidade de Cícero
Às voltas de uma despedida sem foguete
Como o trem de Sorôco
Caí no gélido chão do pop australiano
Nos braços de uma canadense embriagada.


"And I said,´Constantly in the darkness
Where's that at?
If you want me I'll be in the bar.´"


Referências.
Redigi-as uma a uma.
Num ritual agnóstico
À espera do sacrifício do cordeiro
De uma resposta
Um milagre.

Nos braços de Oxum pus-me a chorar
Cerquei-me de palhas
Com medo do fogo, é certo
Mas com certeza de que a tempestada haveria de passar.

Não.
Ainda me devo essa.

Meu corpo cai do oitavo andar,
mas não consigo pensar na solidão ao lado.
Menos ainda no rapaz requebrante,estático ou qualquer outro troço.
Teria eu me tornado uma graciosa geladeira?
Acho que isso a tempestade permitiu
Num silêncio que explode qualquer madrugada.


 Em meio ao nada,
continuo amando.
"Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo."



domingo, 12 de maio de 2013

Maria-mole

Senti o frio
Esqueci.

Rente a mim, permanecia
Gemi sem conseguir
Ignorar;




odeio você.





Odeio.


Rebuscando as linhas do feto que mal sorriu
Tecendo os olhos do sonho que perdi
Italianamente esquecida. Brasileiramente linda.

             Zombas do que sobra.
Do cuspe que me resta
E onde ainda grita eu?

Idilicamente embriagada
Na esperança de um dia ser nua
Hoje.
Agora. Pra sempre.

Um dia, quem sabe, sorrirei diante do riso
Moreno. Como quem vê o bancário, a manicure.
                    Amando. E em paz.




quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Rotas arritmadas n.1


Sístole-diástole. Sístole-diástole.
Pressão e relaxamento intercalam-se.
Entre uma porrada e outra, constrói-se isso.
Sim, isso mesmo, isso a que chamamos vida.

Digerir, parir, partir, andar.
Pouco importa.
Sístole-diástole.

As baias cinzentas iluminam-se.
Projetos se transformam
Às cegas, às claras
A sós, acém
Amando ou aquém

Tanto faz, desde que seja online.
 Pra ontem, pra hoje, pra sempre.

Redes sociais, narrativas, sujeitos.
O “como” e o “quem” parecem ganhar forma.
Puro nanquim. Faltam cores.
Qual criança prefere o preto-e-branco?
Tem canetinha?

O sofrimento-limite e suas reservas simbólicas...
Entre o porta-joias, o baú e o garimpo.
Sístole-diástole.
O tesouro é sonho.
O risco muda de ares
E prescinde da finitude.

O anthropological blues?
Remodela-se.
A jovem argonauta mal e mal esboça um sorriso.

A saturação de incertezas parece exigir o cessar.
 - Sístole, entende? –
Ela finge entender.
Quantas vezes já não fez isso?
Ciente da solidão dessa escolha.


Sem diástole não há entendimento.
Talvez seja preciso esperá-la.
Ouvir as grandes feiticeiras,
Deixar-se envolver por seu canto
Ouvi-lo, sentir-se palpitar por ele.

Com suas grandes narrativas
Aprender a ouvir as pequenas
E, sob uma nova melodia,
Criar de vez sua rota
Atenta à ausculta
Como forma de se libertar dela.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Rebentou... E agora?




Substantivo abstrato.
Sem dúvidas, criei, sofri, briguei, morri e desejei. Foi tanto, que senti frio.

O livro foi lançado? Foi, sim, senhor! 
Escrevi tal como ela recomendou? Escrevi, sim, senhora!
Trabalho e resenha quase enviados? Os prazos aplaudiram, sem dúvidas.

Acadêmicos do Salgueiro: nove ponto oito!

“Rebento raro como flor na pedra, rebento raro como trigo ao vento... “
Posso só citar e deixar-me de lado, assim, só um pouquinho? Escrota, dentro do esgoto.

Com alguns corações, ideais, projetos... Eu devia formar umas três ONGs de tanta boa vontade.
Mas não sou assim, não quero sê-lo e não o serei.  A cada sensação de abatimento...
EU REBENTO!

Penso em citar tanta gente que já me sinto em paz.
Ah! Quantos já sofreram em meu lugar!
 Penso em olhar no Google a Elis berrando minha dor.
Finalmente, um grito afinado! 
Nove ponto nove?

“E o coração dizendo: - Bata!”
Ok, farei  isso.
Quando eu assim desejar. Eu disse EU, fui clara?
Sei que estou vivendo,  mas posso esvaziar o copo.


Foda-se.

domingo, 21 de agosto de 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A verdade é que eu sinto falta.

Da barba, do cigarro
Do jeans amarrotado
Da cerveja e do metal

Sinto falta.

Da voz rouca
Do riso contido na fotografia
Do beijo na chuva
Das doze badaladas
Do formigamento
Da gargalhada gratuita
Do reflexo na íris envidraçada

Ah! Eu sinto falta!
Paciência.

Meio (a) termo
Contorno dado
Escrito, escroto, escarrado.