Sístole-diástole. Sístole-diástole.
Pressão e relaxamento intercalam-se.
Entre uma porrada e outra, constrói-se isso.
Sim, isso mesmo, isso a que chamamos vida.
Digerir, parir, partir, andar.
Pouco importa.
Sístole-diástole.
As baias cinzentas iluminam-se.
Projetos se transformam
Às cegas, às claras
A sós, acém
Amando ou aquém
Tanto faz, desde que seja online.
Pra ontem, pra hoje,
pra sempre.
Redes sociais, narrativas, sujeitos.
O “como” e o “quem” parecem ganhar forma.
Puro nanquim. Faltam cores.
Qual criança prefere o preto-e-branco?
Tem canetinha?
O sofrimento-limite e suas reservas simbólicas...
Entre o porta-joias, o baú e o garimpo.
Sístole-diástole.
O tesouro é sonho.
O risco muda de ares
E prescinde da finitude.
O anthropological
blues?
Remodela-se.
A jovem argonauta mal e mal esboça um sorriso.
A saturação de incertezas parece exigir o cessar.
- Sístole, entende? –
Ela finge entender.
Quantas vezes já não fez isso?
Ciente da solidão dessa escolha.
Sem diástole não há entendimento.
Talvez seja preciso esperá-la.
Ouvir as grandes feiticeiras,
Deixar-se envolver por seu canto
Ouvi-lo, sentir-se palpitar por ele.
Com suas grandes narrativas
Aprender a ouvir as pequenas
E, sob uma nova melodia,
Criar de vez sua rota
Atenta à ausculta
Como forma de se libertar dela.